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PROGRAMA FUNCIONAL

UMA CASA PARA PARTILHAR A MÚSICA

O que faz falta no Porto? Como deve ser pensada a Casa? O que satisfaz o público? O que necessitam os músicos? Que filosofia deve presidir à programação? Estas foram algumas das muitas questões levantadas previamente ao desenho da Casa da Música e quem teve de encontrar soluções foi Pedro Burmester, que deitou mãos à obra antes mesmo de haver estaleiro, interveio durante a construção e continuou a regê-la após a sua conclusão. As memórias do pianista, que viria a ser o primeiro programador e diretor musical do equipamento, são tão mais relevantes para contar a história da Casa, quanto o peso da sua palavra, logo em 1999, na definição do caderno de encargos a que a obra emblemática do Porto 2001 - Capital Europeia da Cultura teria de responder. Porque Pedro Burmester sabia o que era realmente preciso para um espaço de eventos musicais. As suas preocupações focavam-se no que seriam a fruição do público e o desempenho dos músicos, querendo potenciar ambos, torná-los mais positivos e fazer disso uma mais-valia para a cidade. Fatores que manteve presentes quando concebeu o programa funcional para entrar em vigor logo que a Casa estivesse concluída. Mais do que levantar uma casa para a música, havia que apontar aquilo a que ela deveria responder muito para além da data de inauguração. Na ótica de Burmester, o objetivo era oferecer ao Porto um equipamento que catalizasse a sua vivência cultural de forma marcante. Não devia, portanto, sobrepor-se aos já existentes, antes se tornando complementar no espírito de rede. E é expressiva a assunção, logo à partida, da opção por prescindir do “clássico” fosso de orquestra no auditório, pois a cidade já estava servida nesse aspeto. Com opinião alicerçada em fortes convicções, Pedro Burmester chegou a estar no centro de polémicas devido às suas ideias, não por teimosia, mas por querer dar efetivas respostas às questões essenciais, já que, para o pianista, a Música é um saber tão essencial como a Língua, a Matemática ou a Filosofia. É mesmo curioso constatar – porque o assume – que a entrega à Casa da Música, tanto na fase inicial como mais tarde na Direção Artística, marcaram-no e à sua relação com o público, fazendo despertar em si com vigor o sentimento de partilha. Ora, esse sentimento foi de suprema importância no desenho do que haveria de ser a Casa e representar para quem por ela passasse, fossem o público, os músicos, técnicos, administrativos ou operacionais. Ao explicar o que deviam ser essas experiências, Burmester acabou por afetar com o mesmo sentimento de partilha quem com ele participava na decisão sobre a conceção do edifício e do seu funcionamento. Até as interrogações suscitadas pela proposta do arquiteto holandês Rem Koolhaas foram ultrapassadas porque todas as equipas de engenharia e construção envolvidas interiorizaram a 100% a vontade de concretização. Mas chamar um músico a assumir um papel-chave numa obra deste tipo não só era caso raro, como inesperado – uma autêntica provocação. E o pianista do Porto, além de definir os requisitos para o nascimento da Casa, acompanhou interventivamente a seleção do projetista. Nomeadamente, partilhou a batuta da comissão de avaliação dos projetos com Artur Santos Silva, então presidente executivo da Sociedade Porto 2001, SA, Nuno Cardoso, administrador da empresa e futuro presidente em exercício da Câmara do Porto durante a construção, o encenador Ricardo Pais, à época diretor do Teatro Nacional São João, e os arquitetos Manuel Correia Fernandes, também administrador da Porto 2001, Eduardo Souto de Moura, Manuel Salgado e Álvaro Siza Vieira.

escrito por Pedro Matos Trigo 

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