MISSÃO
Promover a diversidade e dar oportunidade aos jovens
Desde que foi convidado para participar na conceção da obra, Pedro Burmester assumiu em pleno o objetivo de fazer a Casa da Música interagir com a cidade e impulsionar a sua vivência musical, dando prioridade aos efeitos que dela resultariam e resultaram, como afirma, no panorama cultural local, mais do que nacional ou mesmo internacional. Ex-aluno do Colégio Alemão do Porto e tendo sido treinado para ser dos melhores no que fizesse, considera que "é uma questão de querer". Declarou isso mesmo logo em 1999 ao aceitar a responsabilidade de definir o que se pretendia com a Casa da Música e a que política programática deveria corresponder, bem para além de ser "apenas" a sede da Orquestra Nacional do Porto. Aliás, foi por impulso de Pedro Burmester que esta passou a ser Orquestra Sinfónica do Porto Casa da Música. Mas o pianista bateu-se por "construir" uma Casa que pudesse acolher as diferentes expressões musicais, incluindo em grande medida as contemporâneas. Orquestra de jovens e plataforma da passagem destes ao nível profissional, espaços para música pop-rock, coro, produção de ópera de câmara foram algumas das realidades a que Burmester quis facultar berço, a par da articulação institucional e artística com os demais equipamentos da cidade, mas também com as instituições de vulto a nível internacional. Uma filosofia que adaptou da "Cité de la Musique", em Paris, à realidade e ao exequível no Porto. Não queria um edifício monumental no sentido clássico do termo, formal e contemplativo, advogando pelo contrário uma estrutura com "atitude" que se afirmasse e interviesse na cidade. Esse foi o objetivo que perseguiu nos diversos papéis desempenhados ao longo de vários anos na instituição, desde administrador sob a presidência de Teresa Lago, passando por consultor nos anos de divergência cultural com a Câmara do Porto e até Diretor Artístico e de Educação entre 2006 e 2009. Ainda nos primeiros tempos, a sugestão de Burmester para que os convites à apresentação de propostas contemplassem o ateliê OMA, de um então relativamente pouco conhecido arquiteto Rem Koolhaas, foi coerente com outra das suas premissas para a futura utilização do edifício: a atenção a jovens músicos, que continua a considerar um vetor fundamental no conceito da Casa. O equipamento foi, por isso, sendo construído com a participação direta do premiado pianista e professor de música que, com o enorme conjunto de engenheiros das diferentes especialidades chamados a intervir, trazia para o projeto de construção e para a obra grandes doses de objetividade e pragmatismo. Burmester, que tinha em mente desenvolver uma programação arrojada, apontava as exigências de uma casa que se pretendia polivalente em termos de espetáculos musicais, com as necessidades específicas de cada género, dos diferentes públicos e de cada tipo de músico ou formação, procurando e encontrando da parte da engenharia respostas exequíveis e soluções muitas das vezes inovadoras e até precursoras em várias áreas. Fazia-o com um entusiasmo que também foi contagiante. Nessa perspetiva, são muitos os detalhes recordados enquanto exemplos da criatividade subjacente ao caráter inovador das soluções encontradas para a Casa, discutidas e negociadas ao detalhe com as equipas de engenharias. Foram os casos do vidro ondulado "inventado" para dois topos da Sala Suggia, o padrão da folha de ouro nos painéis das paredes, que nasceu da inspiração no camuflado do uniforme militar norte-americano (a iminente 2.a Guerra do Golfo estava na ordem do dia), ou a instalação dos dois órgãos falsos, entre vários. Mas os pequenos grandes problemas a resolver não se limitavam à sala principal e eram quase uma constante no conjunto da obra, toda ela singular. Onde tudo era novidade, sucediam-se os pormenores de grande consequência caso não fossem corrigidos, solucionados ou transformados com imaginação e rigor, como a necessidade de se instalar um essencial elevador “gigante” com capacidade para vários pianos de cauda, que não estava previsto, ou de se adaptar em obra o desenho das escadas, definidas em projeto com medidas correspondentes à regulamentação holandesa, logo, não conformes com a realidade nacional. Ou ainda a constatação de espaços que, na passagem da originalidade arquitetónica para a concretização em obra, se revelavam corredores "cegos", recantos ou salas sem ocupação nem utilidade prevista, para os quais foi encontrado polivalente e coerente com o edifício, desde locais de ensaio a zonas públicas, de apoio ou para eventos de pequeno formato. Até porque Pedro Burmester preconizava um edifício que tivesse música em todos os sítios, queria que fosse possível fazer música em toda a casa. Daí terem-se multiplicado espaços educativos, salas de ensaio, etc. E a sua visão de uma “casa aberta para o exterior” materializou-se ao ponto de até acontecer música na envolvente do edifício. Tudo concorreu assim para democratizar a música e os seus vários géneros e para pôr o edifício a dialogar com a cidade - duas premissas de Burmester. Uma delas, aliás, foi antecipadamente anunciada por Koolhaas ao prever a adesão dos praticantes de skate às ondas do mármore travertino na zona exterior, levando com eles as sonoridades rap e outras. Salta à vista.